Em MS a justiça quer saber como alguns servidores público ficaram ricos. Polícia descartou que eles fossem meros 'laranjas'
Pelo menos quatro servidores públicos estaduais não têm do que reclamar em relação aos ganhos durante o governo de André Puccinelli (PMDB). Agora, estão implicados na investigação de suposto esquema de corrupção e terão de provar a origem do patrimônio milionário acumulado para escaparem da cadeia. O problema é que a Polícia Federal já tem acesso aos dados bancários e fiscais deles desde muito antes dos supostos desvios.
Os registros e documentos dificultam muito qualquer manobra para maquiar ou lastrear ganhos incompatíveis com a renda honesta deles. Terrenos nos loteamentos mais luxuosos de Campo Grande, carros de luxo, apartamentos caro, fazendas milionárias e joias são as principais posses dos servidores presos no desdobramento da Operação Lama Asfáltica, deflagrada neste mês com o nome de Operação Fazendas de Lama.
Além dos empresários, surgiram também os nomes dos servidores Maria Wilma Casanova, ex-diretora-presidente da Agesul (Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos), André Luiz Cance, ex- secretário Adjunto da Sefaz (Secretaria de Estado de Fazenda), Wilson Roberto Mariano de Oliveira, fiscal da Agesul e Helio Yudi Komiama, ex-gerente de obras viárias da Agesul que, longe de serem meros ‘laranjas’, teriam se beneficiado do esquema de desvio de dinheiro de obras.
Juntos, eles somam um patrimônio milionário e têm em comum terrenos nos mais diversos condomínios de luxo da Capital. De acordo com um dos relatórios da operação a lista de bens pode ajudar na configuração do crime de lavagem de dinheiro e recebimento de propina para o favorecimento do desvio de recursos públicos.
Diretora-presidente da Agesul na época dos fatos, Maria Wilma acompanhou em 2015 Edson Giroto para assumir um cargo no Ministério dos Transportes. Entre os dados coletados na investigação, há indícios de que ela e o marido ampliaram o patrimônio durante sua permanência na pasta estadual.
Ambos possuem expressivo patrimônio imobiliário, com fazendas agropecuárias e imóveis, um deles em nome da filha no valor de R$ 645 mil. O casal declarou patrimônio de R$ 1,1 milhão entre 2009 e 2010 e, depois, R$ 4,1 milhões entre 2014 e 2015.
Outro dado que salta aos olhos é um lucro ‘atípico’ na fazenda, de R$ 800 mil em 2011, contra um prejuízo de R$ 180 mil em 2008.
Wilson Mariano era fiscal e atestava medições falsas em benefício da Proteco, segundo o relatório. Ele colocou todo o seu patrimônio em benefício da filha, Mariane Mariano de Oliveira, que era sócia de Edson Giroto em fazendas do interior.
De acordo com funcionários, as fazendas só estariam em nome de Mariane e seriam do pai. Em 2011, foi registrada a compra de um apartamento a vista de R$ 250 mil e três terrenos em condomínios de luxo, no total de mais de R$ 500 mil.
Em 2013, a filha de Beto Mariano movimentou 3,5 milhões, cerca de 17 vezes mais o total de rendimentos declarados. Em 2014, o valor dobrou para 6,8 milhões: 21 vezes mais o total declarado no Imposto de Renda.
Hélio Yudi, a esposa e os filhos também possuem um patrimônio extenso. Hélio, que tinha rendimento de R$ 11 mil pelo salário que recebia do Governo do Estado na gestão do ex-governador André Puccinelli (PMDB), chegou a efetuar o pagamento de um empréstimo a vista no valor de R$ 150 mil.
Sua esposa deu como parcela de um veículo de luxo avaliado em R$ 100 mil o pagamento a vista de R$ 16 mil. Além disso, eles têm terrenos de luxo e apartamentos distribuídos pela cidade. Tudo isso para uma renda declarada de R$ 184 mil, de acordo com a RAIS (Relação Anual de Informações Sociais).
André Cance, ex-secretário Adjunto de Fazenda, tem seus bens representados no relatório pela ‘ex-esposa’ Ana Cristina Pereira da Silva e Evaldo Furrer, também preso na Operação, que seria o seu ‘laranja’ em Rio Negro.
A investigação apurou que Ana Cristina, apesar de divorciada legalmente, ainda é mulher de André Cance, com quem inclusive ainda viveria junto. A ideia do divórcio, segundo o relatório, seria ‘despistar’ os bens em nome dela.
A estratégia do casal seria declarar sempre um valor menor do que o de avaliação dos bens, sejam as diversas fazendas que possuem ou os imóveis. Em 2011, Ana comprou um imóvel por R$ 80 mil, que foi revendido 68 dias depois por R$ 425 mil.
Frequentadora assídua de joalherias, mais de 50 notas fiscais foram encontradas pela compra de joias, em valores acima de R$ 180 mil. Um dos apartamentos, avaliado em R$ 600 mil, está declarado por R$ 75 mil.
Com patrimônio que era de R$ 1,1 milhão em 2010, Ana Cristina passou a ter R$ 16 milhões em 2014. Evaldo Furrer tem a fazenda de Rio Negro no seu nome, mas nenhum registro de movimentação financeira dela, omitindo inclusive a posse do bem na declaração do Imposto de Renda. Ele é proprietário de sete móveis rurais e declara movimentação em apenas uma. A renda de Evaldo é considerada insuficiente para o pagamento de financiamentos e compras de propriedades feitas em seu nome.
Fonte: Midiamax