Alvo de investigação do Ministério Público por conta de contratos multimilionários com a prefeitura de Campo Grande ao longo dos últimos sete anos, o queijeiro Adir Paulino Fernandes, de 65 anos, pode ser considerado um empreendedor polivalente. Prova disso é que, além dos contratos para locação de máquinas e veículos, a empresa dele já vendeu, entre uma infinidade de outros intens, ração para gatos, flauta e até pandeiro para a prefeitura da Capital.
De acordo com as investigações da Operação Cascalhos de Areia, desencadeada em 15 de junho deste ano, Adir Paulino é proprietário da empresa JR Comércio e Serviços, empresa que faturou cerca de R$ 220 milhões desde 2017.
Mas, apesar desses faturamentos milionários, se apresentou como motorista e vendedor de queijos que fatura em torno de R$ 2,5 mil mensais logo após ser detido por posse irregular de arma em uma chácara de Terenos. Então, a conclusão a que os investigadores chegaram é que ele é “laranja”, possivelmente, de seu genro, Edcarlos Jesus Silva.
Este, por sua vez, também foi alvo da devassa do MPE por ser o proprietário legal de duas empresas sob suspeita de fraudes na locação de veículos, maquinários e manutenção de ruas sem asfalto na periferia de Campo Grande.
E apesar do escândalo da Cascalhos de Areia e da descoberta de que um queijeiro tem negócios desse porte, o “pobre milionário” continua fazendo negócios com a administração municipal. Nesta quarta-feira (22), por exemplo, foi publicada nota de empenho garantindo-lhe R$ 69.047,71 pela locação de veículos durante o mês de outubro.
Não está claro para qual setor foi feita a locação equivalente a esse pagamento, mas entre os contratos que conquistou está o aluguel de sete carros para a Secretaria de Assistência Social e outros dois para a Casa da Mulher Brasileira, prédio onde trabalham inúmeras delegadas e agentes de polícia, que possivelmente utilizaram os veículos fornecidos pelo queijeiro “milionário”.
Mas além de locação de veículos, o polivalente empresário já fechou contratos para fornecimento de uma infinidade de produtos. Entre eles é possível destacar lixeiras para coleta seletiva a serem entregues em escolas de educação infantil, conforme o pregão eletrônico 110 de 2018.
Fornecimento de ração para cães e gatos recolhidos pelo Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) é outro ramo de atuação do empreendedor Adir Pualino, conforme mostram publicações do site da transparência da prefeitura de Campo Grande.
E a lista de interesses não acaba aí. Em maio de 2017 saiu a publicação de que ele fora escolhido em 11 dos 32 itens de um pregão para fornecimento de instrumentos musicais que estavam sendo comprados pela Secretaria Municipal de Educação (Semed).
Nesta disputa (pregão eletrônico 144 de 2016) foi escolhido para fornecer oito flautas transversais, ao custo de R$ 1.083,34 cada uma, e 28 pandeiros, com valor individual de R$ 58,34. Além disso, neste mesmo pregão vendeu tuba, metalfone, carrilhão, vibrafone e uma série de instrumentos musicais de nomes que só os entendidos do setor sabem o que são exatamente.
O curioso é que meses antes, em março de 2017, havia sido escolhido em 14 dos 31 itens para locação de máquinas e caminhões para a prefeitura, em um contrato que previa desembolso de até R$ 68,5 milhões por ano. E, mais da metade deste faturamento seria do “pobre queijeiro”.
E mais curioso ainda é que nesta licitação ficou claro que Adir Paulino parecia não ter uma relação lá muito boa com seu genro, o Edcarlos, proprietário da empresa MS Brasil, também alvo da Cascalhos de Areia em junho deste ano.
Sogro e genro, que em tese eram concorrentes, disputavam entre si o contrato milionário. Edcarlos venceu em apenas três itens, enquanto que o sogro queijeiro foi escolhido em 14 dos quesitos do pregão presencial 108 iniciado em 2016.
A operação do Cascalhos de Areia, que surgiu após denúcia anônima de servidores municipais, apontou supostas irregularidades nos contratos que superavam os R$ 300 milhões para aluguel de máquinas e manutenção de ruas sem asfalto em Campo Grande.
Laranjal
A suspeita do Ministério Público é de que o queijeiro seja “laranja” do genro. Mas, ainda conforme aponta a investigação, o laranjal é muito maior. O próprio Edcarlos, suspeita a promotoria, seria “laranja” de André Luiz dos Santos, o André Patrola e de um grupo de políticos e empresários que até agora não apareceram oficialmente nas investigações.
E apesar dos indícios de uma série de irregularidades, não é só o queijeiro que segue fazendo negócios com o poder público. Publicações do Diogrande desta quarta-feira (22) mostram que as empresas de André Patrola e Edcarlos recebera, juntos, quase R$ 1,4 milhão somente por serviços prestados em outubro à prefeitura de Campo Grande.
E estes serviços, que estão sob investigação, foram reajustados em 25% cerca de três meses após a eclosão do escândalo. Além disso, no começo de novembro duas das principais empreiteiras envolvidas no caso voltaram a vencer disputa milionária para locação de máquinas à prefeitura de Campo Grande.
Juntas, elas abocanharam a metade dos 16 lotes de um pregão eletrônico que prevê desembolso de até R$ 31.238.134,92 por ano em “locação de máquinas pesadas, caminhões, veículos leves e equipamentos para execução de serviços.”
A empresa de André Luis dos Santos, venceu a disputa em dois dos 16 lotes e foi escolhido para locar duas motoniveladoras e uma carreta prancha. Por ano, vai faturar R$ 1,64 milhão caso os equipamentos sejam efetivamente utilizados.
Outro escolhido foi Edcarlos Jesus da Silva. Ele saiu vencedor em seis dos oito lotes para locação de 22 caminhões basculantes e caminhões pipa, oito caminhonetes e duas mini-retroescavadeiras. O edital previa que ele poderia faturar até R$ 21 milhões por ano, mas para vencer o pregão eletrônico ofereceu preços cerca de 20% menores que o teto estipulado pelo licitante.
Então, caso realmente empreste seus equipamentos à municipalidade, vai faturar em torno de R$ 17 milhões somente com este contrato.
Reprodução: Correio do Estado.